26/08/2007

Ser ou não ser jornalista...

Foi a profissão que escolhi sem ter de pensar muito... A "culpa" foi da rádio. Experimentei, fiquei, quero voltar! Não tive sequer de fazer testes psicotécnicos porque a vontade de ser jornalista corria-me nas veias. Sabia o que queria ser e a hipótese de tirar outro curso nem sequer se colocava. Costumo dizer a antigos colegas iscspianos (como eu adorei os tempos de faculdade!!!) que vivemos todos na utopia de que as coisas não estariam tão mal. Licenciei-me, licenciámo-nos e de vez em quando partilhamos uns com os outros as dificuldades de nos mantermos numa profissão de loucos, sem horários, que exige muito de nós e que nem sempre nos dá as devidas recompensas.
A vida de jornalista é demasiado insegura, imprevisível, desgastante. Costumo também dizer que se fosse hoje não sei se era esse o curso que escolheria. Continuo apaixonada pela procura de notícias, pela descoberta de histórias diferentes, originais, por conhecer vertentes desconhecidas do cidadão comum. Gosto de investigar, saber mais, procurar, estudar e ter o prazer de concluir um artigo e saber que o mesmo vai ser lido por imensas pessoas. Sinto uma coisa estranha quando vejo as publicações em que colaboro expostas em tantos sítios e ainda não fico indiferente se me deparo com cidadãos comuns a lerem o que escrevo. Realmente é um privilégio e até uma responsabilidade social levar informação útil aos leitores. Sinto mesmo a responsabilidade de os informar sobre a forma como podem e devem levar uma vida mais saudável. Orgulho-me de estar em projectos que começaram devagar e que já deram passos de gigante. Prefiro estar em projectos onde realmente aprendo do que terminar em revistas cor de rosa que simplesmente vasculham a vida dos "famosos" deste país. Julgo que não me conseguiria ver nesse papel.
Por outro lado, é duro trabalharmos horas a fio e nem sempre sermos valorizados. É uma profissão instável, cada vez mais pertencente a uma geração do "recibo verde" que hoje tem emprego e amanhã não se sabe... Muitas vezes, deixamos de ter vida própria e vivemos demasiado para o trabalho, não conseguimos desligar. Depois vêem os fechos dramáticos com horas nocturnas e madrugadas dedicadas ao computador e não ao descanso. Há também as dezenas de artigos e histórias que mereciam ser contadas e publicadas mas que se limitam a ficar no arquivo por falta de espaço. Não há coisa mais frustante na minha profissão do que ver artigos de grande interesse arquivados à espera de um espaço ou da melhor altura para serem publicados. Sinto-me frustrada quando faço reportagens e entrevistas de horas, tenho imenso trabalho a transcrever e o artigo fica reduzido a meia página do jornal. Por mais anos que viva a profissão de jornalista, nunca me vou conformar com esta realidade.
Digamos que ando um pouco pessimista e apesar de só ter voltado de férias há uma semana, não consigo encarar a minha profissão com mais ânimo. Talvez porque sou realista e porque vejo que eu e os meus antigos colegas de faculdade se matam a trabalhar para nem sempre termos as maiores recompensas ou valorizações. Claro que é um privilégio trabalhar na área para o qual me especializei e passei anos a estudar. Era bem pior se não estivesse a exercer a profissão que escolhi e que tanto trabalho me deu nos quatro anos de licenciatura. Mas há dias e dias... Hoje é um daqueles dias menos optimistas em que penso se realmente terei escolhido a profissão certa... Sei que muitos dos meus amigos iscspianos partilham esta incerteza. Dou sempre o melhor que posso e julgo que até consigo ser boa profissional mas parece que isso também não é suficiente! Por outro lado, a oferta de trabalho na área do jornalismo é muito escassa e há cada vez mais pessoas para menos lugares! Melhores dias virão? Esperemos que sim! Hoje estou do contra? Parece que sim! Continua a valer a pena ser jornalista? Sim, continua se pensar por diversos motivos já referidos. Tenho-me esquecido de mim por causa da profissão? Muitas vezes tenho-me esquecido da minha vida em prol da profissão. Valerá a pena? Talvez não... Vou ser jornalista para o resto da vida? Não sei... talvez sim talvez não. O tempo o dirá!
No entanto, há dias em que me apetecia ter uma profissão mais normal que me desse maior sanidade mental. Claro que também há outros em que penso o contrário. É assim! Bom Domingo a todos!

7 comentários:

Anónimo disse...

Ena ena, q grande testamento, outra vez. E novamente mto real, mto bem escrito e mto certo. Eu, de facto, vejo-te como uma Workhollic, no bom sentido. Vejo-te sempre preocupada com o trabalho, com o q fazes, com o que não deixas por fazer, com o ter tudo pronto a horas, com o ajudar os outros qd precisam, etc, etc...
Sei q tás no bom caminho, estás a adquirir mto + do q alguma vez imaginaste, q pode ser mto cansativo por agora, mas q te irá dar bagagem para o futuro...
Tu sabes o q penso, o q te incentivo, o q te tenho dito...
Como disse alguém na preparação do clássico fcp-scp... CORAGEM. E o tranquilidades reforçou... MTA CORAGEM!!!
BJSSSSSSSS

Unknown disse...

Tu és linda...e apesar do desespero que é natural, (acompanha todas as profissões...olha para mim!! )fazes sem dúvida o que gostas!!!Basta olhar para os longos testamentos que tens escrito neste blog...
Gosto muito de ti...FORÇA!!!!! BJS

Anónimo disse...

Grande comentário, sim senhor! Como tu própria dizes, há dias em que te apetece ser jornalista, outros que não. Claro, também há dias que te apetece rir e outros chorar, e nuns vestir branco e noutros preto. Acontece.
Acho, contudo, que tens ainda de dar um bocadinho mais ao pedal quando falas de onde é que é bom ou não trabalhar e sobre o que é ou não é bom escrever sobre. Fazes ideia da companhia que as revistas cor-de-rosa fazem a tantos velhinhos e velhinhas (e não só) por todo o lado? fazes ideia do assunto que esse tipo de publicações traz a tantas familias que à mesa não abrem a boca? Nem que seja p dizer "ja viste que a maluca da elsa raposo tem outro?" ou apenas "casou a não-sei-quantas"? É muito trabalhoso, muito dificil de fazer e, se calhar, mais eficaz que muitos outros tipos de jornalismo "mais nobres" ou sobre assuntos "mais sérios". Jornalismo é jornalismo, seja cor de rosa, azul, cinzento ou branco. A mente é que tem de estar aberta para aceitar tudo o que existe, filtrar o que gostamos, e criticar o que deve ser criticado, mas sempre com conhecimento de causa. Por mim, que leio tudo, até a Dica da semana folheio enquanto janto. Tudo faz sentido, é só ler e, talvez, experimentar. Pode ser que até se goste. Ou se veja que há mais cores para lá das que são atribuídas.
bjkz, Pedro

Anne Martens disse...

Volta já à rádio - cá te esperamos! ;)

Beijos!

Cláudia Pinto disse...

Obrigada Paulo e Marisa. Vocês dão mais cor à minha vida! Obrigada também à Anne Martens que me deixou confusa no começo mas que já atingi de quem se trata (espero fazer-te companhia na rádio um dia destes).

Pedro, compreendo o que me dizes e até posso cair no erro de ser pouco conhecedora da dita imprensa cor-de-rosa. Simplesmente, há certos valores com os quais não me identifico, sobretudo quando leio certas mentiras que tenho a certeza que o são (temos uma amiga em comum que tem sido alvo deste tipo de jornalismo sensacionalista). É óbvio que eu também leio todo o tipo de jornalismo. Caso contrário, não poderia sequer criticar... E também é lógico que há dias em que estou mentalmente mais predisposta para ler as ditas revistas cor-de-rosa. Mas estou no meu direito de não gostar, ainda que não tenha experimentado. A minha casa, aliás, tem várias revistas do género e até damos bastante lucro a vários projectos do mercado. De qualquer forma, não me imagino a prosseguir famosos na sua vida privada e a tentar saber o que fazem nos seus tempos livres. Acho aliás que muitos ditos famosos têm um protagonismo desnecessário e que o tempo de antena que lhes dão é ridículo pois nada fazem da vida e são considerados ídolos nacionais. Não consigo entender o destaque ilimitado que dão a certas personalidades do jet set e estou-me nas tintas se um famoso trocou de namorado, se tem um cão de raça ou se as crias da cadela da Cinha Jardim morreram. Acho um exagero certas notícias que essas revistas publicam. No entanto, também há áreas nessas mesmas revistas que me interessam bastante e que me mantêm atenta. É como a eterna discussão dos homens e das mulheres... Por mais que estejamos a discutir, certamente que teremos pontos de vista diferentes. No dia em que for trabalhar para um projecto deste género e se isso acontecer, serei a primeira a ligar-te e a dar-te razão. De qualquer forma, para se estar em determinado projecto, é essencial acreditar! Digamos que eu não acredito em certas publicações e irrito-me muitas vezes com capas e mentiras publicadas. Obviamente que as opiniões são como as cerejas. Tenho muitos bons amigos e bons jornalistas em publicações ditas cor-de-rosa. Continuo a admirá-los. Não significa que tenha de me identificar com essas revistas ou jornais. Como já li de tudo e acho que as mentiras não são notícias, ainda teriam de se esforçar muito para me convencer do contrário. Concordo quando dizes que essas revistas fazem companhia a muitas pessoas sós. Completamente de acordo. No entanto, ambos sabemos que os objectivos destas revistas vão muito além desse papel de responsabilidade social.
Uns dias apetece-me ser jornalista e noutros estou cansada de me esquecer de mim por causa da profissão. No entanto, acredito nos projectos que abracei. Quando deixar de acreditar, não fará sentido continuar...

Beijinhos para ti e bom trabalho!

Anónimo disse...

Poucos são os dias que tenho reservado para estar contigo (e com a tua família, que tenho como minha) muitas são as vezes que tenho essa vontade e, pura e simplesmente, não tenho tempo.
Não sou jornalista, mas tenho uma profissão que ocupa muito espaço, e muitas são as vezes em que me questiono se realmente vale a pena... Acabo sempre por achar que sim, porque acredito a 100% nos projectos aos quais me entrego e consigo retirar muito prazer daquilo que faço.
Ler o teu blog permite-me manter actualizada a nossa amizade, mas tenho sido egoísta, uma vez que, pela primeira vez, passo de leitora a autora de breves linhas de reciprocidade.
Acho que escolheste muito bem a tua profissão... (ou será que devo dizer que foi a profissão que te escolheu?!?) e isso fica claro neste teu sótão de ideias tão claras e arrumadas e nos trabalhos que já tive a oportunidade de ler. Parabéns!
Acho que a falta de tempo e a intensidade com que vivemos as nossas profissões são sinais da mudança dos tempos ( antigamente os valores familiares e sociais eram outros)e dizem muito da pessoa que somos ( perfeccionistas, preocupadas, dedicadas, muitas vezes, e custa-me admiti-lo, parvas).
Quanto ao "Ser ou não ser jornalista...", acho que o problema maior não é o tipo ou a cor do jornalismo em si, (se há oferta é porque existe procura) o grande problema é a seriedade e isenção com que as notícias são tratadas... ou não.
Já dei algumas entrevistas nas quais me revi inteiramente (poucas), já vi entrevistas minhas publicadas em que metade era realidade e a outra metade ficção, e também já aconteceu descobrir que um grande amigo meu, afinal é meu namorado ou que estive em Espanha com a minha irmã a passar férias. Apesar de ser mais evidente no jornalismo dito cor-de-rosa, também o jornalismo dito sério incorre numa data de erros, imprecisões e negociações. Poucas são as vezes em que isso fica claro, muitas são as vezes em que "comemos" notícias maquilhadas, negociadas, enceradas, mastigadas, sujas,... Notícias que surgem com um protagonismo só explicável na proporção do favor que estão a pagar.... Enfim, a corrupção comanda o mundo e isso, infelizmente, não acontece só no mundo jornalístico.
Cláudita mantém-te firme e brinda-te com a liberdade de expressão. É um direito que ganhámos a duras penas e vale o esforço conservá-lo.
Beijos enormes da tua Micro.

Cláudia Pinto disse...

Minha linda Micro,

Obrigada pelas tuas palavras e pela estreia no meu blog. Espero que voltes regularmente com os teus comentários. Percebo perfeitamente o que dizes, até porque eu própria já te dei notícias em primeira mão sobre coisas que escrevem e que são absolutamente falsas. Ainda há uns dias, pensei que estarias a gozar de merecidas férias em Espanha com a tua mana mas enganei-me redondamente. Tomei a informação como certa e afinal estavas tão próxima de nós.

Também a minha profissão não me tem permitido visitar-te a ti e à tua família tantas vezes quanto gostaria. É por isso que digo que às vezes me apetecia ter uma profissão que me desse mais tempo de qualidade na vida. O trabalho é sempre muito e o tempo para fazer aquilo que realmente gostamos e visitar os que amamos é cada vez mais escasso.
Independentemente de estar em projectos que acho que são mais sérios ou que têm um papel de responsabilidade social bem mais vincado, sei que os meus valores não me permitem inventar, publicar sem confirmar ou vasculhar a vida de quem quer que seja. Quando "vasculho" a vida, tem mais a ver com histórias de sucesso relacionadas com curas de doenças, cujos protagonistas principais são os primeiros a querer transmitir uma mensagem de força.
Tento ser fiel àquilo que me dizem e não costumo alterar os conteúdos. Estou longe de ser perfeita mas também sei que há locais onde pura e simplesmente não me vejo a trabalhar. E contra mim falo porque as ofertas de emprego na minha área são cada vez mais escassas e é difícil arranjar um cantinho no jornalismo em Portugal.
Quanto a ti, admiro-te por tudo o que conseguiste até hoje e pela brilhante profissional que és. Chego a ter "inveja" da tua energia contagiante que infelizmente, já perdi. Adoro-te amiga... e já aprendi a comunicar contigo sempre que leio uma notícia sobre ti que não me soa a verdadeira! Continua a ser sempre como és, com essa personalidade de adulta que sempre tiveste, mesmo quando estavas no começo da adolescência.

Ah! E devias obrigar-te a escrever no meu blog porque o fazes muito bem e é um prazer ler-te!

Beijinhos grandes.